Sem pressa!!

Quando você está dentro do Centro Obstétrico, de plantão ou acompanhando um trabalho de parto, começa a ver e a perceber muitas coisas. Então resolvi fazer um texto desabafo.
Lá no colégio, às vésperas do vestibular, deveríamos ter uma aula de orientação vocacional fundamentada no princípio “não escolha a profissão pensando no dinheiro que você irá ganhar, mas na felicidade que ela vai te trazer”. Trabalhar todos os dias em alguma coisa que você não gosta, independente do dinheiro que ela te traga, não vale a pena.
Embora a gente vire obstetra fazendo plantão e, geralmente, apaixone-se pela obstetrícia por isso, a “vida real”, como eu costumo dizer, é um divisor de águas. Voltar a fazer plantão me ensinou muitas coisas. Quando você atende os seu pacientes, em esquema de plantão oficial, ou então naquelas horas intermináveis de trabalho de parto, você entende, de verdade, o que é ser Obstetra e isso faz toda a diferença no cuidado com as pacientes.
Vivemos num mundo capitalista, eu sei disso, óbvio, precisamos ganhar dinheiro, mas não pode ser só dinheiro. Resolvi escrever sobre isso porque me cansa um pouco ouvir críticas quando as pacientes ficam sob responsabilidade do plantão ou então, o outro lado da moeda, quando vejo os trabalhos de parto serem “apressados” para nascer de uma vez. Parto normal exige tempo, dedicação e PACIÊNCIA.
Quando você não tem um destes quesitos, um dos dois lados sairá prejudicado. Infelizmente, na maioria das vezes o prejuízo é da paciente. Pressa e obstetrícia não combinam, mesmo que sua escolha seja uma cesariana. Existem múltiplos fatores que podem atrasar o processo, ou então adiantá-lo. Então não tem como exigir precisão de horário, é preciso ter paciência.
Paciência da paciente que, eventualmente, ficará 12, 24 ou 48h num processo de indução, paciência da equipe, que vai chegar, sair e chegar de novo e talvez se depare com a mesma paciente, paciência dos familiares que estão em casa ou na sala de espera, ansiosos por notícias e, principalmente, paciência do médico assistente, ou plantonista, para entender que cada binômio mãe/bebê tem seu tempo e este precisa ser respeitado. Desde que ambos estejam bem e em boas condições de saúde, não temos porque ter pressa.
Neste ponto, especificamente, o plantão obstétrico do Divina foi um divisor de águas na minha vida. Eu consigo fazer induções de parto mais longas, com mais segurança e ciente de que, mesmo que eu vá para casa tomar banho, o plantonista não vai acelerar o processo de nascer ou fazer intervenções desnecessárias. Plantão não tem pressa.
Outro dia eu li um texto sobre a cascata de intervenções. Achei super interessante. Precisamos avaliar muito bem os prós e contras da primeira intervenção, seja ela farmacológica, mecânica ou simplesmente uma orientação verbal. Em algumas situações específicas, as intervenções são necessárias, mas a prática diária mostra que, na maioria das vezes, elas são usadas para abreviar um trabalho de parto fisiológico, infelizmente.
Quando vocês optam por um parto normal, o relógio passa a ser seu maior inimigo. Não temos como planejar o dia do parto e, muito menos, quanto tempo ele vai durar. Abrir a cabeça para um parto normal também significa deixar as coisas acontecerem, sem se preocupar com “quanto tempo vai durar?”. Lembrem-se sempre, parto normal exige paciência e persistência, de todos os envolvidos.
Conversem com os familiares, amigos, acompanhante de parto, para que eles também entendam que não temos tempo, nem pressa. Pesquisem a melhor equipe obstétrica para atendê-los, visite a maternidade, conheça seus índices de parto normal e cesariana. Se você quiser um parto normal, pergunte para os amigos, ou para o Google, se seu médico faz parto.
Quanto mais informações você conseguir e mais paciência você tiver, maiores são as chances da sua experiência de parto ser a melhor possível, independente da via.
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